PADRE
GABRIELE AMORTH
Famoso
Exorcista da diocese de Roma.
EXORCIZAR
AS CASAS?
Não
se pode encontra nenhum exemplo na Bíblia mas, a experiência prova
que, este tipo de exorcismos é necessário em certos casos e que, os
resultados obtidos são satisfatórios. Mesmo o Ritual não prevê
esta forma de exorcismo.
Na
verdade, o final do exorcismo de Leão XIII preconiza a bênção dos
lugares onde esta oração é recitada; contudo, todo o seu conteúdo
tende a invocar a proteção de Deus para a Igreja contra os
espíritos malignos, sem nenhuma referência aos lugares.
Devo
precisar que nunca vi locais invadidos por espíritos como certos
filmes ou romances descrevem a esse respeito, sobretudo quando se
referem a velhos castelos desabitados. Os seus autores tinham,
evidentemente, como único objetivo apresentar cenas espetaculares e
impressionantes, não se baseando em nenhum estudo sério.
Por
outro lado, é-se muitas vezes confrontado com barulhos, por vezes
semelhantes à crepitação, outras a pancadas, outras vezes tem-se a
impressão de uma presença, de se estar a ser fixado, tocado ou
atacado. É evidente que, nestes casos, pode haver uma grande parte
de sugestão, o medo que dá forma às sombras.
Mas
há casos muito mais complexos. Portas que se abrem e fecham a uma
determinada hora; passos que ressoam nos corredores; objetos que de
deslocam ou desaparecem para reaparecer depois nos lugares mais
estranhos; animais que não se vêem mas se sentem movimentar.
Lembro-me
de uma família em que todos os membros a determinada hora, ouviam a
porta de entrada se abrir, depois um barulho de passo pesados (de
homem) atravessando o corredor antes de se desvanecerem numa divisão,
ninguém sabia qual.
Um
dia em que estava presente um dos seus amigos, o barulho habitual
fez-se ouvir claramente, a ponto de este amigo perguntar quem tinha
entrado; para não o aterrorizar responderam-lhe que se tratava de um
hóspede de passagem. Ouvi falar da materialização de insetos, de
gatos e de serpentes; um dos meus pacientes, encontrou mesmo um sapo
vivo na sua almofada!
A
maior parte das vezes uma presença maléfica num local manifesta-se
provocando problemas físicos: insônias, dores de cabeça ou de
estômago, um mal-estar geral que não se sente em mais nenhum lugar.
Então torna-se fácil controlar estes fenômenos embora nem sempre
seja fácil determinar a causa.
Vamos
ver por exemplo o caso de uma pessoa que cada vez que é convidada
para ir na casa de um parente próximo ou amigo, experimenta os
seguintes problemas: insônia, mal-estar, dores de cabeça... que
podem durar vários dias; entretanto não volta a sofrer disso se se
vai embora. Neste caso há um controle fácil. A causa contudo pode
ser extremamente variável.
Pode-se
tratar de pura e simples sugestão quando razões válidas o fazem
supor (quando por exemplo uma nora vai a casa da sogra que se opôs
ao seu casamento ou que nutria um amor possessivo para com o filho).
Mas também se pode tratar de causas maléficas.
Assinalamos
que é interessante notar o comportamento dos animais domésticos
face a estes fenômenos. Quando se sente a presença de alguém na
divisão onde se encontram, vê-se muitas vezes o cão ou o gato da
casa fixarem os olhos num determinado ponto; ou fugirem bruscamente,
aterrorizados, como se esse ser misterioso se aproximasse deles.
Poderia
contar várias acontecimentos interessantes a quem desejasse estudar
este aspecto mais em detalhe. Contento-me, em dizer que, segundo a
minha perspectiva, os animais não distinguem nada de concreto, mas
são mais sensíveis do que o homem a uma eventual presença. E não
nego que o seu comportamento possa constituir um elemento
determinante para decidir se convém exorcizar uma casa ou não.
O
essencial, quando se recebem pessoas angustiadas por este tipo de
fenômenos, é interrogá-las bem e, se for caso disso, exorcizá-las.
Na maioria dos casos os fenômenos mencionados não são devidos a
presenças maléficas nas casas, mas a presenças maléficas nas
pessoas. Aconteceu-me muitas vezes não obter nenhum sucesso ao
exorcizar a casa; e depois á medida que exorcizava a pessoa ou as
pessoas, constatar que as manifestações na casa diminuíam, e
acabavam por desaparecer completamente.
Como
se exorciza uma casa?
O
Pe. Cândido e eu próprio aplicamos o seguinte método. O Ritual
contém uma dezena de orações em que se pede ao Senhor que proteja
os lugares contra as presenças maléficas. Encontram-se nas bênçãos
das casas, escolas, etc. Rezamos algumas, depois lemos a primeira
parte do primeiro exorcismo destinado às pessoas, mas adaptando-as à
casa. Benzemos em seguida cada divisão como fazemos na benção da
casa. Fazemos o mesmo percurso com o incenso benzido. Terminamos com
outro oração. Encontrei uma eficácia especial ao celebrar a Missa
nas casas, depois de as ter exorcizado.
Quando
os incômodos são de pouca importância, um só exorcismo é
suficiente. Quando é causado por um malefício e este é renovado,
convém repetir também o exorcismo até que a casa se torne
“impermeável” aos malefícios. Nos casos mais graves, as
dificuldades são numerosas.
Tive
por exemplo que exorcizar apartamentos nos quais durante muito tempo
se tinham realizado sessões de espiritismo ou que tinham sido
habitados por feiticeiros que faziam magia negra. No entanto, o pior
era quando tinham sido lá celebrados cultos satânicos. Em alguns
casos a gravidade dos problemas e a dificuldade em obter uma
libertação completa, foram de tal ordem, que aconselhei os meus
pacientes a mudar de casa.
Em
alguns casos, não graves, as orações foram suficientes para
restabelecer a paz. Uma família era incomodada por inexplicáveis
barulhos noturnos; mandou celebrar dez missas e depois disso os
barulhos diminuíram consideravelmente. Mandou ainda celebrou mais
dez missas e a seguir os barulhos desapareceram totalmente.
Seriam
almas do purgatório que por permissão divina se puderam fazer ouvir
para pedir sufrágios? É difícil garantir. Apenas queria aqui
assinalar este fato com o qual já fui confrontado várias vezes.
Don
Pellegrino Ernetti, o mais celebre exorcista de Trivenetto, também
muito conhecido como estudioso de música e de Bíblia, teve
experiência de casos excessivamente graves. Em casa de uma família,
portas e janelas perfeitamente fechadas abriam-se e fechavam-se,
cadeiras voavam, armários rangiam, aconteciam todos os absurdos.
O
padre decidiu resolver este caso empregando simultaneamente os três
sacramentais a que os exorcistas recorrem constantemente. Aconselhou
misturar num recipiente qualquer (chávena, copo...) água, óleo e
sal exorcizados. Depois recomendou deitar todas as noites uma colher
da mistura na sacada de todas as janelas e nas bases de todas as
portas, rezando um Pai Nosso de cada vez.
O
remédio foi espetacular. A família parou com este uso e passado uma
semana, os inconvenientes recomeçaram a importunar a calma doméstica
para voltarem a desaparecer depois de se voltar a utilizar o remédio
sugerido.
No
que se refere aos animais domésticos já me têm perguntado se eles
poderiam ser incomodados pelo demônio e, em caso afirmativo, o que
se deveria fazer. O Evangelho relata-nos a história daquela legião
de demônios que pediu a Jesus autorização para entrar nas duas
varas de porcos; depois de obterem uma resposta positiva, todos os
animais se precipitaram no lago de genesaré onde se afogaram.
Conheço
o caso de um exorcista incompetente que mandou a um demônio que
fosse apossar-se do porco duma família de camponeses: o animal ficou
imediatamente em fúria e despedaçou a dona. Inútil será dizer que
o mataram imediatamente. Trata-se, portanto de um caso esporádico
que levou imediatamente à morte do animal.
Contaram-me
que um bruxo se servia do gato para levar objetos maléficos ao
destino; eu diria que neste caso o possesso era o dono, não o
animal. O gato é considerado como um animal que “absorve os
espíritos” e outras vezes consideram que os espíritos maléficos
se tornam visíveis sob a forma de gato. Para certos bruxos e em
certos tipos de magia, o uso de um gato é fundamental. Mas este
simpático animal não é minimamente responsável por isso.
Digamos,
contudo, que a infestação de animais também é possível e que é
permitido benzê-los a fim de os libertar. Mas em todos os casos de
infestação (lugares, objetos, animais), como de resto em todos os
outros casos, o exorcista deve conhecer os fenômenos de origem
paranormal. Esses conhecimentos são indispensáveis para evitar toda
a ambigüidade, mesmo se esta obra não tem, infelizmente, ocasião
de falar disso diretamente.
Para
terminar recordamos que, já nos primeiros séculos, os cristãos
também exorcizavam as casas, os animais e os objetos. Entre outros,
Orígenes testemunha este fato. Justamente como já fizemos notar o
Catecismo da Igreja Católica fala de exorcismos não só para as
pessoas, mas também para os objetos (can. 1673).
Pe. Gabriele
Amorth
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